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o valor somos nós que damos

por Mary P., em 11.02.15

O meu cérebro está a borbulhar, não no sentido literal obviamente. Borbulhar no sentido de ter quinhentas mil ideias para o post a iniciar este novo caminho.

 

Não me desliguei do blog. Todos os dias houve qualquer coisa, li, ouvi, reflecti sobre algo que pensei: "isto dava um bom tema para um post". Mas o mês de Janeiro foi simplesmente caótico - física e mentalmente. Já vivi 21 meses de Janeiro. Este, o de 2015, foi sem sombra de dúvida, o que mais custou a passar. Nunca a frase "parece que nunca mais acaba" fez tanto sentido.

 

Passo a explicar: entre os meses de Setembro e 1/2 Fevereiro estive no Hospital São João a estagiar - Medicina e Cirurgia. Cirurgia foi assim uma coisa de coração. Adorei, adorei, adorei. Adorei os orientadores, adorei a equipa de Enfermagem, adorei a equipa Médica e as auxiliares, adorei as instalações. ADOREI A MÍSTICA DO SERVIÇO. A última semana foi horrorosa. Não queria que os dias acabassem. Todos os dias me levantava cheia de vontade para ir para o Hospital e aprender mais "umas coisinhas". Todos os dias no final do turno olhava para trás (não necessariamente) e pensava "Epa ... é mesmo disto que eu gosto!". Aqui disseram-me: "Inês, tens tudo para ser uma óptima Enfermeira. Sabes, procuras saber mais, és organizada, sabes falar com os utentes. Não te percas." e deram-me o melhor elogio de sempre no dia da Avaliação Final (Enfermeiros Orientadores pelos quais eu tenho o maior respeito): "Um dia se for por hospital é por Enfermeiras como tu, Inês, que eu quero ser atendido." Tocou-me. Sorri apenas. Mas tocou-me, confesso. Simultaneamente desvalorizei porque sabia que tinha pela frente um estágio que é tido como duro. Poucos são os que gostam de Medicina. A verdade é que nos últimos tempos já me sentia completamente integrada no serviço. Porque tinham-me dado espaço para ser eu, a Inês. Tive oportunidade de me mostrar, o que fez com que me conhecesse melhor. Descobri/adquiri características em mim. Aproveitei a oportunidade e fiz por mostrar que tinha sido bem empregue. Mil obrigadas do fundo coração, Professor Alex e Professora Alice.

Já nos finais de 2014 mudei para Medicina. Desci um piso. Tudo diferente. Orientadoras, Equipa Multidisciplinar, instalações. Ambiente do serviço. Sofri horrores - tristemente é mesmo este o termo correcto. A partir daqui podia levar este parágrafo para vários temas: a bipolaridade, tudo o que um Orientador não deve ser/dizer/fazer, a frustração, a linha ténue entre o respeito pela autoridade e a desvalorização de hierarquias justificada, a autoridade só porque sim,... Abreviando, neste estágio a Inês na sua essência foi reprimida. Não teve espaço. Aliás, retiraram-lhe espaço. Logo na primeira semana lhe disseram que estava para a Enfermagem como o chocolate está para o azeite, ou seja, nada a ver. Não foi um murro no estômago. Foi um atropelamento por trinta camiões-tir repetido quinhentas e cinquenta mil vezes. Respondi: "Professora, acontece que no lugar do coração não tenho uma pedra." E a partir desse momento o meu caminho foi dificultado. 

 

Continuando no espírito de abreviar cheguei a casa e chorei. Chorei porque achava que tinha feito um bom trabalho. E uma senhora que não me conhecia de lado nenhum ao final de três dias me pergunta se eu tenho consciência de que estou no 3º ano de Enfermagem e não de Psicologia e que na sua ironia me mandou ir para casa rever a definição de Relação Terapêutica. Conceito este que me tinha sido valorizado pelos orientadores por quem merecem toda a minha consideração, porque eles sim me mostraram TODOS OS DIAS a imagem e a postura que eu quero adoptar - admirava-os e pensava para mim: "Quando for grande quero e vou ser assim." Tudo isto porque a minha utente começou a chorar quando lhe desejei bom fim-de-semana e lhe disse que só voltava na 3ªfeira. Acontece que era uma utente de 80 anos, de Amarante, solteira. Recebia a visita do sobrinho 2xsemana quando via as suas "vizinhas" sempre com gente aos pés da cama. Obviamente que lhe dei uma atenção especial. E se houve pessoa com quem eu senti que construí uma Relação Terapêutica - conceito que tanta gente se queixa sobre a sua ausência nos hospitais portugueses nos dias de hoje - foi com a D. V.. Fui quem lhe explicou a importância para a sua saúde fazer pesquisas de glicemia 4xdia - "Ó Enfermeira, já não chega as picas de ontem? Olhe bem para os meus dedos. Vá tratar a dali do lado!" -, era eu quem ela deixava dar banho e avaliar a tensão arterial. Foi a mim que a D. V., desconfiada de tudo e de todos,  respondeu às perguntas permitindo construir uma boa Avaliação Inicial. Foi comigo que a D. V. aprendeu a falar devagar e a ganhar confiança e à-vontade para ser ela mesma - uma senhora super amorosa, com a piada na ponta da língua e que toda a gente naquela Enfermaria era incapaz de sair sem lhe dar uma palavrinha - deixando cair a protecção de "eu não preciso de estar aqui. Deixe-me em paz. Eu quero é ficar sozinha. Ninguém me entende." 

 

Seguindo a minha essência e a minha aptidão inata de divagar e divagar demorei bastante tempo a decidir que título iria dar a este post. E penso que "o valor somos nós que damos" acenta que nem uma luva. Porque se quando fui elogiada desvalorizei e fiz por não pensar muito no assunto, quando o meu carácter e aptidão - técnica e social - foram postos em causa levei a peito e deixei-me afectar. Muito. Agora que já passou se calhar tería desvalorizado completamente. Mas o que está feito, feito está. 

 

Com isto quero dizer que é importante, essencial mesmo, darmos ouvidos a quem percebe realmente sobre o assunto. E compartimentalizar. Guardar as informações em caixas, caixotes e caixinhas conforme a sua importância/veracidade usando em simultâneo um coador onde só passa aquilo que contribuirá realmente para o nosso desenvolvimento.

 

Termino este post com uma frase que eu gosto muito e que me toca particularmente acompanho-me todos os dias:

 

"Põe tudo o que és na mais pequena coisa que faças."

Ricardo Reis, meu querido e eterno Nando, Nandinho

 

Não te minimizes. Não te acanhes. Observa. Vê. Ouve. Escuta e retém. Valoriza e valoriza-te. Retoca. Entrega-te de coração.

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gondolt a nap #35

por Mary P., em 04.08.14

 

***

Sou uma sonhadora. Problemas?

 

"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso." Meu querido Nando no seu Livro do Desassossego.

Nestes compridos últimos tempos tem sido difícil sonhar. De ter vontade de sonhar. Vontade de fazer seja o que for. Pois, mas é nesta altura em que se vê quem é de fibra. Quem é que é destemido o suficiente para enfrentar a maré de problemas que teimam em não se dissolver. Quem é tolo o suficiente para arriscar tudo o que tem e lutar pela Felicidade.

 

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No fim

por Mary P., em 18.07.14

No fim de tudo dormir. 

No fim de quê? 

No fim do que tudo parece ser..., 

Este pequeno universo provinciano entre os astros, 

Esta aldeola do espaço, 

E não só do espaço visível, mas até do espaço total. 

 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 

 

E este fim é o fim que abraça um mar de coisas ...

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petições que fazem sentido

por Mary P., em 03.06.14

Claps Claps Claps para a Petição que está a ser organizada no facebook a favor de "Descruzar a perna do Fernando Pessoa, que já deve estar dormente", uma vez que a preocupação é quando o Nandinho (muito carinhosamente Nandinho) se levantar como é que vai ser.

G-E-N-I-A-L

 

 

https://www.facebook.com/events/1441186506138363/

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de coração cheio

por Mary P., em 18.05.14

Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

Álvaro de Campos

 

TCHARANNNNN!!!!

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