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os sossegos e desassossegos, os amores e desamores de uma Mary Poppins invictuosa. porque super=above, cali=beauty, fragilistic=delicate, expiali=to atone e docious=educable
O meu cérebro está a borbulhar, não no sentido literal obviamente. Borbulhar no sentido de ter quinhentas mil ideias para o post a iniciar este novo caminho.
Não me desliguei do blog. Todos os dias houve qualquer coisa, li, ouvi, reflecti sobre algo que pensei: "isto dava um bom tema para um post". Mas o mês de Janeiro foi simplesmente caótico - física e mentalmente. Já vivi 21 meses de Janeiro. Este, o de 2015, foi sem sombra de dúvida, o que mais custou a passar. Nunca a frase "parece que nunca mais acaba" fez tanto sentido.
Passo a explicar: entre os meses de Setembro e 1/2 Fevereiro estive no Hospital São João a estagiar - Medicina e Cirurgia. Cirurgia foi assim uma coisa de coração. Adorei, adorei, adorei. Adorei os orientadores, adorei a equipa de Enfermagem, adorei a equipa Médica e as auxiliares, adorei as instalações. ADOREI A MÍSTICA DO SERVIÇO. A última semana foi horrorosa. Não queria que os dias acabassem. Todos os dias me levantava cheia de vontade para ir para o Hospital e aprender mais "umas coisinhas". Todos os dias no final do turno olhava para trás (não necessariamente) e pensava "Epa ... é mesmo disto que eu gosto!". Aqui disseram-me: "Inês, tens tudo para ser uma óptima Enfermeira. Sabes, procuras saber mais, és organizada, sabes falar com os utentes. Não te percas." e deram-me o melhor elogio de sempre no dia da Avaliação Final (Enfermeiros Orientadores pelos quais eu tenho o maior respeito): "Um dia se for por hospital é por Enfermeiras como tu, Inês, que eu quero ser atendido." Tocou-me. Sorri apenas. Mas tocou-me, confesso. Simultaneamente desvalorizei porque sabia que tinha pela frente um estágio que é tido como duro. Poucos são os que gostam de Medicina. A verdade é que nos últimos tempos já me sentia completamente integrada no serviço. Porque tinham-me dado espaço para ser eu, a Inês. Tive oportunidade de me mostrar, o que fez com que me conhecesse melhor. Descobri/adquiri características em mim. Aproveitei a oportunidade e fiz por mostrar que tinha sido bem empregue. Mil obrigadas do fundo coração, Professor Alex e Professora Alice.
Já nos finais de 2014 mudei para Medicina. Desci um piso. Tudo diferente. Orientadoras, Equipa Multidisciplinar, instalações. Ambiente do serviço. Sofri horrores - tristemente é mesmo este o termo correcto. A partir daqui podia levar este parágrafo para vários temas: a bipolaridade, tudo o que um Orientador não deve ser/dizer/fazer, a frustração, a linha ténue entre o respeito pela autoridade e a desvalorização de hierarquias justificada, a autoridade só porque sim,... Abreviando, neste estágio a Inês na sua essência foi reprimida. Não teve espaço. Aliás, retiraram-lhe espaço. Logo na primeira semana lhe disseram que estava para a Enfermagem como o chocolate está para o azeite, ou seja, nada a ver. Não foi um murro no estômago. Foi um atropelamento por trinta camiões-tir repetido quinhentas e cinquenta mil vezes. Respondi: "Professora, acontece que no lugar do coração não tenho uma pedra." E a partir desse momento o meu caminho foi dificultado.
Continuando no espírito de abreviar cheguei a casa e chorei. Chorei porque achava que tinha feito um bom trabalho. E uma senhora que não me conhecia de lado nenhum ao final de três dias me pergunta se eu tenho consciência de que estou no 3º ano de Enfermagem e não de Psicologia e que na sua ironia me mandou ir para casa rever a definição de Relação Terapêutica. Conceito este que me tinha sido valorizado pelos orientadores por quem merecem toda a minha consideração, porque eles sim me mostraram TODOS OS DIAS a imagem e a postura que eu quero adoptar - admirava-os e pensava para mim: "Quando for grande quero e vou ser assim." Tudo isto porque a minha utente começou a chorar quando lhe desejei bom fim-de-semana e lhe disse que só voltava na 3ªfeira. Acontece que era uma utente de 80 anos, de Amarante, solteira. Recebia a visita do sobrinho 2xsemana quando via as suas "vizinhas" sempre com gente aos pés da cama. Obviamente que lhe dei uma atenção especial. E se houve pessoa com quem eu senti que construí uma Relação Terapêutica - conceito que tanta gente se queixa sobre a sua ausência nos hospitais portugueses nos dias de hoje - foi com a D. V.. Fui quem lhe explicou a importância para a sua saúde fazer pesquisas de glicemia 4xdia - "Ó Enfermeira, já não chega as picas de ontem? Olhe bem para os meus dedos. Vá tratar a dali do lado!" -, era eu quem ela deixava dar banho e avaliar a tensão arterial. Foi a mim que a D. V., desconfiada de tudo e de todos, respondeu às perguntas permitindo construir uma boa Avaliação Inicial. Foi comigo que a D. V. aprendeu a falar devagar e a ganhar confiança e à-vontade para ser ela mesma - uma senhora super amorosa, com a piada na ponta da língua e que toda a gente naquela Enfermaria era incapaz de sair sem lhe dar uma palavrinha - deixando cair a protecção de "eu não preciso de estar aqui. Deixe-me em paz. Eu quero é ficar sozinha. Ninguém me entende."
Seguindo a minha essência e a minha aptidão inata de divagar e divagar demorei bastante tempo a decidir que título iria dar a este post. E penso que "o valor somos nós que damos" acenta que nem uma luva. Porque se quando fui elogiada desvalorizei e fiz por não pensar muito no assunto, quando o meu carácter e aptidão - técnica e social - foram postos em causa levei a peito e deixei-me afectar. Muito. Agora que já passou se calhar tería desvalorizado completamente. Mas o que está feito, feito está.
Com isto quero dizer que é importante, essencial mesmo, darmos ouvidos a quem percebe realmente sobre o assunto. E compartimentalizar. Guardar as informações em caixas, caixotes e caixinhas conforme a sua importância/veracidade usando em simultâneo um coador onde só passa aquilo que contribuirá realmente para o nosso desenvolvimento.
Termino este post com uma frase que eu gosto muito e que me toca particularmente acompanho-me todos os dias:
Não te minimizes. Não te acanhes. Observa. Vê. Ouve. Escuta e retém. Valoriza e valoriza-te. Retoca. Entrega-te de coração.
***
Sou uma sonhadora. Problemas?
"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso." Meu querido Nando no seu Livro do Desassossego.
Nestes compridos últimos tempos tem sido difícil sonhar. De ter vontade de sonhar. Vontade de fazer seja o que for. Pois, mas é nesta altura em que se vê quem é de fibra. Quem é que é destemido o suficiente para enfrentar a maré de problemas que teimam em não se dissolver. Quem é tolo o suficiente para arriscar tudo o que tem e lutar pela Felicidade.
No fim de tudo dormir.
No fim de quê?
No fim do que tudo parece ser...,
Este pequeno universo provinciano entre os astros,
Esta aldeola do espaço,
E não só do espaço visível, mas até do espaço total.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
E este fim é o fim que abraça um mar de coisas ...
Claps Claps Claps para a Petição que está a ser organizada no facebook a favor de "Descruzar a perna do Fernando Pessoa, que já deve estar dormente", uma vez que a preocupação é quando o Nandinho (muito carinhosamente Nandinho) se levantar como é que vai ser.
G-E-N-I-A-L
https://www.facebook.com/events/1441186506138363/
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
Álvaro de Campos
TCHARANNNNN!!!!
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